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Briginha a dois... uma terceira pessoa sempre é demais.

— Não adianta pedir pra você ficar, Mariana. Você é, realmente, cabeça-dura. O que mais posso fazer, me diga?

— Sinceramente... o que poderíamos dizer um ao outro já dissemos. Agora é só esperar que o tempo cure as feridas ou as mantenha abertas eternamente. Lembre-se Arturius, sempre temos que arcar com nossas atitudes. E você vai aprender isso da pior maneira: me perdendo. Quem sabe você consiga aprender a dar valor às coisas que realmente importam, depois dessa separação.

— Quem disse que estamos nos separando? Você não pode me deixar por causa de uma briguinha à-toa. Já lhe disse que o que você viu não é bem o que você pensa que viu. A Briseis é tão amiga minha como é sua também. Ela estava em um momento de solidão e me pediu ajuda. Você só teve a infelicidade de chegar no momento em que nos abraçávamos. Só isso.

— Você é inacreditavelmente cínico. Tentando me convencer de que por trás daquele abraço tão caloroso não havia nada. E, por favor, não comece a chorar. Não me faça me sentir pior do que estou. E pensar que fazíamos juras de amor. Você sempre tão presente; tão amável; tão falso. É... você é digno daquela vadia. Por que não vai procurá-la quando acabarmos essa maldita conversa? Ela, com certeza, vai saber consolá-lo. Grande amiga ela me saiu.

— Por favor, não vamos incluir mais ninguém nessa nossa discussão. A Briseis apenas me pediu um favor e eu atendi. Se soubesse que acabaria dessa forma, com nós dois frente a frente, chegando ao ponto de falar em separação, eu juro, não teria ido até o apartamento dela. Maldita hora que eu fui atender aquela ligação. E você Mariana, por favor, deixe de ser tão rude e tente enxergar as coisas de forma mais racional e não com essa visão unilateral e acusatória. Posso não ser a melhor pessoa do mundo, mas também não me acuse dessa forma, como se eu fosse um Judas. Faça-me o favor.

— É ridículo ver você proteger aquelazinha lá, se é justamente por causa dela que estamos brigando. Chega a ser patético. Ah Arturius, só em pensar nos planos que fiz. Você sabe que toda mulher faz planos, ao contrário de vocês que nunca planejam nada que não possa ser realizado em alguns dias. Eu fiz planos pra anos, décadas, uma vida inteira até. Mas esse golpe pôs tudo abaixo. Oh vida miserável, me explique por que os homens traem!

— Ora Mariana, falando desse jeito você parece aquele maluco do Hamlet. Daqui a pouco você vai dizer “ser ou não ser, eis a questão” e todas aquelas falas malucas que ele pronuncia no livro. Menos Mariana, menos. Já lhe esclareci o que aconteceu. O que você quer mais que eu faça?.... ora, por favor, não comece a chorar senão vamos terminar os dois mortos afogados em nossas próprias lágrimas como numa tragédia de Shakespeariana.

— Não há como não chorar diante de tal situação. Você me conhece muito bem e sabe que eu me entreguei totalmente a você. Sabe que eu não sei e não consigo esconder minhas emoções..... tente me convencer de que você não me traiu me contando exatamente o que aconteceu naquela noite no apartamento da Briseis antes de eu chegar.

— Se é o que você quer. Se isso vai provar a minha inocência. Então, escute com bastante atenção. Na tarde daquele dia a Briseis me ligou. Dizia ela que estava muito mal porque tinha brigado com seu namorado e que tentou ligar pra você, pra desabafar, mas não conseguiu. Parece que seu telefone estava fora de área ou desligado. Então, o que ela fez!? Ligou pra mim. E por quê!? Porque ela imaginava que estávamos juntos e então ela conseguiria falar com você. Mas eu estava sozinho, e quando ela ia desligar eu perguntei se era muito importante assim falar com você e, então, ela começou a chorar. Achei estranho e perguntei o motivo. Foi aí que ela me contou o que tinha acontecido e eu não achei nada demais em ir falar pessoalmente com ela, já que me parecia que ela estava muito mal. Muito mal mesmo. Então marcamos de nos encontrar na praça de alimentação do shopping. Pessoalmente percebi que ela estava mais arrasada, com os olhos inchados. Parecia que ela tinha chorado por muito tempo. A briga deve ter sido feia...

— Até agora você não conseguiu me convencer a mudar de ideia. Ainda continuo com a pulga atrás da orelha.

— Por favor, Mariana, não me interrompa. Desse jeito eu me perco na história. Posso continuar?

Deve.

— Muito bem. Deixe-me lembrar onde eu parei... sim! Estávamos lanchando. O rosto da Briseis estava muito triste. Ela parecia muito magoada. Coitada! Ela me falou que o namorado havia brigado com ela justamente por ciúmes. Ele a viu com um garoto e não gostou nada do comportamento dos dois. Sabe como é esse povo super-protetor!

— Não, não sei não. Não faço a menor ideia.

— Certo! Certo! Então achei melhor não a deixar sozinha. E se ela fizesse uma loucura? Eu me sentiria culpado. Então decidi ficar com ela até ela se sentir melhor e mais confiante. Foi aí que ela me pediu pra levá-la até em casa. O que eu poderia dizer? Não? É claro que eu disse sim. Eu até dirigi o carro porque ela não tinha a mínima condição.

— Muito bem, bom samaritano. Agora vem a melhor parte. Conte! Conte!

— Se você já está me condenando por antecipação, acho melhor parar por aqui. O que você acha?

— Acho que você está tentando me esconder o que aconteceu naquele apartamento antes de eu chegar. Mais eu faço questão de saber. Vamos continue. Estou de camarote aguardando.

— Muito bem. Então chegamos ao apartamento dela e ela me pediu pra ficar mais um pouco com ela. Eu não podia negar. Mas, antes de eu continuar, me diga Mariana, como você sabia que eu estava lá? Como descobriu?

Elementar meu caro Arturius, quando meu celular voltou a ter sinal eu vi um monte de chamada da Briseis e imaginei que ela queria falar comigo urgentemente. Eram muitas chamadas. Isso responde a sua pergunta?

— Sim Mariana Holmes. Você e seus personagens complicados... me poupe. Mas... ela me pediu pra que eu ficasse e eu fiquei. E as horas foram passando e ela não melhorava, ao contrário, chorava mais e mais. E inesperadamente ela me pediu pra que apanhasse uma garrafa de vinho que ela tinha guardado para tomar com o seu agora ex-namorado. Não vi nada demais. E começamos a beber e a beber e.... quando notei, ela estava confessando que sempre teve uma queda por mim. Que me achava uma pessoa muito legal e que você tinha sorte de ter uma pessoa como eu a seu lado, e...

— Para! Para! Não acredito que estou ouvindo isso. Aquela... aquela.... fingindo ser minha amiga e de olho em você. E você, ao que parece estava gostando. Estava se sentindo o macho alfa né? Como eu não percebi isso antes!? Como!? Como eu fui tola!

— Não diga isso. Assim você só piora as coisas. Por favor!

— Por favor, digo eu. Até agora você só fez aumentar o meu desgosto. Nada do que você me contou, desde que estamos aqui, me fez mudar de ideia. Nossos planos estão se desfazendo como bolhas de sabão. Estão se tornando amargos como essas lágrimas. Ah Arturius, acho que você não vai me convencer do contrário. Não dessa vez... (lágrimas)

— Mariana, eu... eu... não sei mais o que dizer. Ela de repente me abraçou forte e começou a me beijar... a me dizer coisas... e... e... não foi culpa minha. Ela estava fora de si. Acredite, por favor!

— É claro que eu acredito. Afinal eu vi com meus próprios olhos. Vi vocês dois se beijando com o maior afinco. Acho que vocês se merecem. É muito dolorido pra eu ter que dizer isso... Confesso que estou com o coração em pedaços, mas quando eu sair por aquela porta você nunca mais vai chegar perto de mim. Não sei como vou fazer, mas vou arrancar tudo que tenho de você dentro de mim. Isso é uma promessa.

— Eu, sinceramente, não sei mais o que te dizer. O que você viu, eu não posso apagar. Apenas tentei esclarecer os fatos. Se não foi o bastante, não sei o que fará você mudar de ideia. Sinceramente.... não sei.

— Certamente que você não sabe. Você não faz ideia de como estou me sentindo agora. Não... não... não me toque. Eu tenho nojo de você.

— Tudo bem! Tudo bem! Acho melhor eu ir agora.

— Vá. Mas antes de sair desligue o som e leve esse CD com você. E por favor, não olhe para trás.

E Arturius saiu, levando consigo o CD Nine Lives, da banda Aerosmith. Meia hora depois Briseis ligara para Arturius que não atendeu a ligação. E Mariana, já tomada banho, na tentativa de tentar se reerguer, pegou um livro em sua estante e deitou-se na cama, a fim de esquecer de tudo e de todos lá fora. Mas ao ler o que estava escrito na página 31 não conteve o pranto e lançou-se sobre o travesseiro em lágrimas. Na página havia um poema que dizia:     

....................

 

Pobre anjo, ia cantando a tua nota aguda:

“Que aqui na vida nada é certo,

E que sempre por mais que a si próprio se iluda,

O egoísmo humano é descoberto;”

 

...........................

Charles Baudelaire

        

Penélope SS

17/4/10 00h:51

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AdrianoRockSilva ESCRITO POR AdrianoRockSilva Autor
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