Caetano

O violão ardia uma e outra notas indecisas. A música estava composta em sua mente, mas lhe faltava a letra. Essa não saia nem... Uma voz de mãe lhe atrapalhou o pensamento: “Ô menino, tu não ia levar tua irmã no zoológico?”. E ele só não blasfemou porque tinha ouvido o padre da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Portos dizer que quem blasfema contra a mãe vai pro inferno antes que possa rogar por perdão.

Então ele levantou, porque não havia mais o que fazer além de abandonar a tal da letra em cima da penteadeira de mármore e levar a pequena Mariazinha no zoológico. Mais ainda fosse outro dos outros sete irmãos, ele ia feliz da vida, cantarolando, até, a nova melodia. Mariazinha era a pior de todas. Chata, sem graça, empata-foda, e apaixonada por bichos. Tinha a mania ridícula de direcionar o tronco na direção de qualquer besta que lhe passasse na vista.

Imagine-se isso no zoológico. A infeliz da criatura magricela se danava a parar em tudo quanto e canto e subir na beirada das cercas a contemplar os malditos animais. Foi assim com o macaco, com as araras, com os coelhos, com os morcegos, com os golfinhos, com os lagartos, com as zebras, com os tatus, com os esquilos, com os porcos, com os cervos, com os patos, com as ariranhas, com os repteis, e até com o elefante. E o garoto, entediado, nem olhando a irmã.

Tanto não olhava que não viu a próxima jaula era a do leão, pra onde a Mariazinha, dois anos mais nova, rumou com tudo a se pendurar nas grades que guardavam o tal bicho. Quando o irmão percebeu, o mamífero já dava uma carreira na direção da menina, que pulava de volta a área segura, deixando-o agarrar o vento com as presas. Ela, olhos esbugalhados, morria de medo, jogada no chão e urrando que nunca mais voltava no zoológico.

Nesse momento, veio a mente do jovem a o trechinho “Gosto muito de te ver, leãozinho”.