Como viver realmente
Como viver realmente.
Ó, meu amor, não vês meu estado? Até que ponto!...
Pare, não me animes a viver ainda,
Chamem os convidados, o túmulo está pronto.
Quero morrer com a Realidade, ela é linda.
Fugia-me a razão, as tontas vivia,
Imaginando cenas, olhares, beijos,
Embreagado no vinho que o sonhar trazia,
Iludindo-me, abusando os meus desejos.
Ó, amor, te quero sempre, bem ao meu lado,
Porém, deixe este traficante vil,
Seu desejo é ver seu produto espalhado.
Não o desprezo, só não sou mais infantil.
Meus sonhos – meus inimigos, minha desgraça.
Nada de reais, manchas indefinidas.
Dos corações que se enganam, esta raça,
Vem esgueirando-se pelas almas iludidas.
Monstros, mentirosos, malvados, ladrões;
Tormento, surpresa para os que crêem;
Miragens, fantasias, ilusões,
Não têm paz mesmo que a semeiem.
Vês estas marcas, os pardos olhos?
Foram eles; se aproveitaram de mim.
O meu viver encheram de abrolhos,
Desejas ver-me ainda assim?
Eu gostava deles... Não os conhecia...
Tinham seu encanto, seu sabor...
Algo de fé e de bom existia...
Com o tempo, úlcera, câncer e dor.
Muita dor... Quanto tempo desperdiçado;
Contra eles a Certeza é mais que terapia,
É um corcel sem asas sendo alado
É uma luz mesmo ao brilhar o dia.
Ó, eu quero ser feliz... Eu sou feliz!
Sim, eu vivo, amo; não sonho viver.
Já ouço cantos, a Realidade me diz:
“Que paz, que glória é na certeza morrer.”
31/01/2003.
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