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Por que fomos ensinados a olhar para nosso próprio umbigo?

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Por milhares de vezes pensei sobre como uma pessoa tem a capacidade de tratar a outra pessoa com desrespeito e intolerância. Eu sei que este é um pensamento de muitos, porém por muitas e muitas vezes eu também pensei do porquê de sempre nos ausentarmos do sentimento e da vida do outro. Por que fomos ensinados desde pequeninos a olhar para o nosso próprio umbigo?

Desde aquele momento em que nosso amigo ou mesmo um desconhecido caiu de uma bicicleta e chorou e só por isso começamos a rir. Rimos, porque fomos acostumados pelas redondezas de nossas casas a ver outras pessoas fazendo o mesmo, e isso se tornou tão normal no percurso de nossas vidas que continuamos com o mesmo hábito quando adultos. Só que desta vez de uma maneira mais séria. Penso que teria sido diferente se quando avistássemos uma pessoa mesmo que desconhecida caindo de uma bicicleta, nós, com nossa meninice fôssemos até essa pessoa e simplesmente tivéssemos dado nossas mãos para levantá-la. Atitudes como esta, teriam nos levados a um mundo adulto mais saudável, respeitável e tolerante perante o outro. Mas penso que ainda dá tempo de nos transformarmos.

Lembra-se daquele momento em que seu colega de escola nervoso e chorão apanhou por murros e pontapés de um colega de classe que foi ensinado a ser “machão”, e você avistou tudo, mas riu dele por ele ter sido tão fraco, lembra-se como você não fez nada? Não digo que você tenha culpa, nem você que avistou e não fez nada, nem você que bateu por ser machão, nem você que apanhou por ser tão “fraco”, você era menino demais para pensar em quais consequências aquilo lhe traria. Mas hoje, hoje já adultos não. Quando nos ausentamos da dor do outro tornamo-nos cúmplices dela. Mas lembre-se que ainda há tempo de tomar a dor do outro como se fosse nossa.

Fomos ensinados a não olhar para nenhum sentimento que não seja o nosso. Fomos ensinados a saber que cada um tem a sua vida. Fomos ensinados a sermos superiores, a sermos os melhores da sala, a ficarmos com a garotinha mais bonita do colégio, fomos ensinados a ter os melhores brinquedos, a não emprestá-los para o amigo para que este amigo não os perdesse ou os quebrasse, fomos ensinados a conquistar coisas para que pudéssemos mostrá-las ao máximo de pessoas possível e nos exibirmos. Fomos tanto ensinados a olhar para nosso próprio umbigo, que se esqueceu de nos ensinar que além de nós, existem mais pessoas neste mundo. Penso que teria sido tudo muito diferente se ao invés de nos ensinarmos que tirar melhores notas não quer dizer que somos superiores, só que dizer que somos merecedores, hoje quando adultos pensaríamos em nossas conquistas como merecimentos e não como superioridade. Se aprendêssemos a namorar aquela garota mais interessante que achássemos para nós mesmos, hoje quando adultos, aprenderíamos a dá valor a uma mulher ou mesmo a um homem pela sua essência e não por uma coisa tão fútil chamada aparência. Que se nós aprendêssemos a compartilhar nossos brinquedos com nosso amigo, hoje estaríamos habituados ao exercício do compartilhamento.  

Pode-se notar que são mínimas atitudes que nos levam a um patamar de seres bons para se conviver, para amar, para apreciar. Respeitar, compartilhar, saber conviver com as diferenças é preciso. Olhar para o outro é preciso para um mundo mais pacífico.  É importante sim que você respeite seus pais, mas também é importante que você respeite seu vizinho. E não importa o quanto você aprecia e respeita o seu chefe, se você fala mal do seu irmão. Não importa mesmo se você empresta teu dinheiro a um amigo que precisa muito, se um mendigo te pede esmolas e você olha-o com desprezo, torce a boca e passa direto como se ele fosse uma aberração.  Não importa se você é educado com um e grita com outro.

Não estou querendo dizer que você precisa ser perfeito, nem eu o sou. Você não precisa tomar atitudes diante de todas as dores do mundo, mas sentir um pouco da dor do outro nos faz mais humanos. Respeitar a condição do outro, nos faz mais gente, nos remete mais amor, mais coragem, mais entendimento diante de toda uma existência.  Reeducar-se é uma tarefa mais fácil do que se imagina. Você só precisa abrir portas para isso. Só é preciso querer fazer isso. Confesso que já me impedir de compartilhar algo meu, confesso que já quis ser o melhor da sala, confesso que já fui rude com minha irmã. Confesso tudo isso com toda a honestidade e com todo o arrependimento do mundo. Mas confesso que hoje, ainda com tão pouca idade que possuo, nem que eu queira, consigo rir porque alguém caiu de uma bicicleta. 

 

Fomos ensinados a olhar para nosso próprio umbigo.

Porém, podemos ser reeducados a evoluir nosso espírito.

 

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Mariane Rodrigues ESCRITO POR Mariane Rodrigues Escritora
Maceió - AL

Membro desde Julho de 2010

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