UM DIA DE CHUVA
Faz tempo, muito tempo que um dia
Num dia de chuva de inverno
Segurando um fino caderno
Pela primeira vez eu lhe via
Toda molhada da água de maio
A blusa branca se tornara incolor
Blusa safada, lhe ofendera o pudor
Mostrando seu corpo em breve ensaio
Eu também vinha da escola
Brigando com os pingos da chuva
Eu não tinha guarda-chuva
Nas costas uma velha sacola
Meus olhos de lince não perdiam um lance
E grudavam na blusa que grudava em seu busto
Mas seu olhar bravo me prega um susto
E você foge zangada do meu alcance
Eis que de repente você escorrega e cai
Molhando sua saia e seu velho caderno
Seu olhar zangado agora é terno
Não sei porque esse olhar me atrai
Pego-lhe nos braços e lhe ponho sentada
Em um banco de ferro de uma praça fria
Você me olhava enquanto eu sorria
Um sorriso maroto de gente safada
E tal grude viscoso de escuro glacê
Uma força gigante cola a gente
E num instante, em doce repente
Fecho os olhos e beijo você
Pois é, faz tanto tempo, mas não esqueci
Da garota molhada tão cheia de graça
Pena que depois do dia frio da praça
Eu nunca mais a vi
( Sander Dantas Cavalcante)

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