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Alagoas: origem e desdobramentos

Este primeiro fascículo de ALAGOANIDADES (http://www.alagoanidades.com.br) inaugura o projeto que tem o objetivo de divulgar a memória histórica e a contribuição cultural de Alagoas.

Com uma singular riqueza em relatos históricos e patrióticos, em paisagens paradisíacas, em sabores particulares e em produções literárias e artísticas genuínas, Alagoas tem sua história iniciada antes mesmo dos portugueses encontrarem e conhecerem o território brasileiro, conforme demonstram os registros arqueológicos decifrados ao longo dos anos.

Os índios que aqui viviam antes do ano de 1500, com língua e costumes próprios, dividiam-se em diversas tribos. O norte de Alagoas era habitado pelos potiguaras e tabajaras, o sul era habitado pelos aguerridos caetés e em áreas específicas eram encontrados os abacatiaras, os carijós, os cariris, os pipianos e os xucurus, dentre outras inúmeras tribos.

Mas é com a presença dos europeus, a partir do século XVI, que Alagoas passou a construir a sua própria identidade dentro do vasto território brasileiro. Portugueses, franceses e holandeses, em busca de conquistas territoriais e benefícios comerciais, foram os principais responsáveis por corajosas expedições e incursões que, dando um novo impulso para o desenvolvimento de fatos e a prática de atos, determinaram a formação de suas tradições, de suas características peculiares e de sua própria autonomia.

Em 1534, o território de Alagoas passou a integrar a Capitania de Pernambuco, então denominada Nova Lusitânia, que foi a mais próspera de todo o Brasil até o ano de 1548, quando a sede do governo colonial foi instalada na Capitania da Baía de Todos os Santos, hoje Estado da Bahia.

Este sistema de divisão do território brasileiro em capitanias hereditárias serviu para acelerar o povoamento do país. Na Capitania de Pernambuco foram intensificadas as explorações, o que viabilizou a fundação de vilarejos, o cultivo da cana-de-açúcar e a implantação dos banguês que assinalariam a nobreza local.

O processo de ocupação, todavia, não foi fácil. Além de não conhecer as características do território, os portugueses ainda enfrentaram uma forte resistência dos índios. Pode-se citar, como símbolo da oposição indígena, o ato de canibalismo dos caetés que vitimou o primeiro bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha, além de outros tripulantes da nau Nossa Senhora da Ajuda, que naufragou nas proximidades da costa do atual município de Coruripe, no ano de 1556.

E foi a partir desse episódio que, pelo que contam os anais, viu-se iniciada uma intensa e obstinada perseguição dos portugueses aos índios caetés, daí resultando o povoamento do território alagoano.

Com efeito, foi a contar daquele momento que surgiram os núcleos definitivos de ocupação: em Penedo, situado na margem do Rio São Francisco; em Porto Calvo, localizado no norte do Estado; e em Alagoas do Sul, hoje conhecida como cidade de Marechal Deodoro, que, aliás, viria a ser a primeira capital da Província das Alagoas.

Já no século XVII, Alagoas assumia grande importância econômica dentro da Capitania de Pernambuco, tendo como destaque a lavoura de cana-de-açúcar, a produção de farinha de mandioca e tabaco, a criação de gado e a exploração da pesca.

Ocorrida a invasão holandesa na Capitania de Pernambuco, o que se deu em 1630, ostensiva e valorosa foi a resistência oposta pelos alagoanos, quando se destacaram heróis da estirpe de Felipe Camarão, Clara Camarão e Henrique Dias. Esse período de destruição e saques de povoados e engenhos perdurou até o ano de 1645, quando os holandeses foram expulsos do território alagoano, embora a luta tenha continuado, em Pernambuco, até 1654, ano em que os portugueses reconquistaram o controle da capitania.

No interior das terras alagoanas, por sua vez, tornaram-se numerosos os quilombos, que eram constituídos de africanos foragidos dos engenhos de Pernambuco e da Bahia. O Quilombo dos Palmares, que teve uma peculiar importância dentro da história do Brasil, sediado na área onde hoje está o município alagoano de União dos Palmares, chegou a abrigar 20 mil habitantes antes da sua completa destruição, em 1694, após um duradouro período de existência.

No dia 9 de outubro de 1706, a partir de uma carta régia, Alagoas alcança a condição de comarca, acentuando o desenvolvimento da região. Em 1730, Alagoas possuía cerca de 47 engenhos de açúcar e uma considerável prosperidade econômica, o que assegurava expressiva renda para o tesouro real.

Um século depois, com a edição de um decreto em 16 de setembro de 1817, Alagoas é desmembrada de Pernambuco, sendo elevada à categoria de capitania. Esta emancipação política decorreu do enfraquecimento político de Pernambuco perante a corte real portuguesa, após a revolução separatista que ocorreu na região, bem como dos fatores econômicos e sociais que propiciavam a autonomia administrativa de Alagoas.

O primeiro governador foi Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, que tomou posse em 22 de janeiro de 1819 e logo buscou implantar a defesa militar e os serviços administrativos da capitania, optando por instalar a sede do governo na vila de Alagoas do Sul e as repartições fiscais na vila de Maceió.

Em 1822, após a independência do Brasil, Alagoas tornou-se província e, em 1839, a partir da lei provincial editada em 9 de dezembro, a sede do governo foi transferida para Maceió, que passou a ser capital até os dias atuais.

A primeira constituição de Alagoas foi promulgada em 11 de junho de 1891, momento a partir do qual surgiram intensas disputas políticas, que deram ensejo à deposição do governo eleito, à instituição de uma junta provisória e à realização de novas eleições.

Tudo isso e muito mais, no que diz respeito ao passado remoto, àquele mais recente e, finalmente, aos dias de hoje, será detalhado e examinado nos fascículos que virão.

Contamos com a colaboração de todos, enviando-nos textos e imagens que retratem Alagoas e que possam ser publicados em edições futuras do projeto ALAGOANIDADES.

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Henrique Méro ESCRITO POR Henrique Méro Escritor

Comentários

Ron Perlim
Ron Perlim

A memória relevante. Ela nos situa no tempo, nos conferi identidade. Valeu pelo texto.


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