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CRIADORES DE MUNDOS

CRIADORES DE MUNDOS

 

* Carlindo de Lira Pereira

 

 

       Sim, caro(a) leitor(a), após ler O país das quimeras, Memórias Póstumas de  Brás Cubas  , A mão e a luva, Esaú e Jacó, Helena, Dom Casmurro,  algumas obras do nosso escritor maior Machado de Assis; e depois de ler Os Timbiras, Juca Pirama e Primeiros Contos de  nosso poeta-mor Gonçalves Dias, e tendo ainda lido Senhora, Cinco minutos e Iracema do, paisagístico febril,  José de Alencar; bem como tendo lido Vidas Secas, São Bernardo, Caetés, Memórias do Cárcere, Alexandre e outros heróis e Linhas tortas do nosso maior escritor modernista, alagoaníssimo, Graciliano Ramos ou, simplesmente, mestre Graça. Posso afirmar que, se eu fosse recriar este mundo, fá-lo-ia essencial- mente constituído de PALAVRAS e não de ÁTOMOS, e, portanto, no seu núcleo MOR- FEMAS e não PRÓTONS e NÊUTRONS.  Girando em volta desse núcleo RADICAIS, AFIXOS, PREFIXOS, SUFIXOS, VOGAIS TEMÁTICAS, DESINÊNCIAS MODO- TEMPORAIS, DESINÊNCIAIS NÚMERO-PESSOAIS,  e  nunca meu mundo seria constituído de QUARKS, BÓSONS, MÉSONS, FÉRMIONS.

       Juro, que decretaria cosmicamente uma nova lei “no princípio era o verbo e o ver- bo estava com Deus, e o verbo era Deus”. E assim, daria origem a um MUNDO NOVO feito de palavras faladas e escritas, pois nada me parece mais cheio de poder e mistério, mais belo, mais deslumbrante!  Palavras, não palavras isoladas, mas palavras contextua-lizadas, tecidas num complexo texto, produzido por um magnífico escritor.

       Ah! Como é frio e sem vida um mundo sem palavras: sem fonologia nem fonética, sem morfologia e sintaxe, sem semântica nem discurso. Como imaginar uma narrativa sem personagens, ou um texto descritivo sem qualificadores, os adjetivos. Como ficaria uma dissertação sem tópico frasal, sem desenvolvimento nem conclusão, enfim, sem parágrafo. Onde iria parar a coesão referencial, seqüencial e recorrencial. Seriam, então, pobres textos embriagados pela extrapolação, redução e contradição. Portanto, sem estabelecer a necessária relação entre as diversas partes do texto, sem criar uma unidade de sentido: COERÊNCIA.

       Um mundo sem PALAVRA-TEXTO é um mundo sem TEXTUALIDADE, isto é, sem a devida ordenação, harmonia e distribuição de sentidos, segundo o funcionamento

desejado. Possuidor de intencionalidade, de situacionalidade, de intertextualidade, de informatividade e sem aceitabilidade. Definitivamente, este não seria meu mundo, pois o mundo em que vivo, habito, experiencio, durmo e acordo é o mundo  PALAVRA- TEXTO, PALAVRA-LITERATURA, PALAVRA-HISTÓRIA, PALAVRA-FILOSO- FIA, PALAVRA-PSICOLOGIA, PALAVRA-CIÊNCIA e, por fim, PALAVRA-EPISTEMOLOGIA, aqui eu crio e recrio, este é o meu lugar no mundo.

  

                                                                          * É professor da UNEAL e membro da

                                                                           ACALA – Academia Arapiraquense de

                                                                           Letras e Artes.

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