A EXTINÇÃO DOS ÍNDIOS CAETES E A FORMAÇÃO DE SÃO MIGUEL DOS CAMPOS: UM PROCESSO DE VIOLÊNCIA E COLONIZAÇÃO
A EXTINÇÃO DOS ÍNDIOS CAETÉS E A FORMAÇÃO DE SÃO MIGUEL DOS CAMPOS: UM PROCESSO DE VIOLÊNCIA E COLONIZAÇÃO
A história de São Miguel dos Campos, em Alagoas, está intrinsecamente ligada à violência da colonização portuguesa e à trágica extinção da nação indígena dos Caetés. O encontro pacífico inicial, relatado pela chegada de Américo Vespúcio e Gonçalves Coelho em 1501 às margens do rio São Miguel, logo se transformaria em conflito. A antropofagia dos Caetés, que culminou com o assassinato e devoração do bispo Pero Fernandes Sardinha em 1556, serviu como pretexto para uma brutal campanha de extermínio.
A Guerra dos Caetés, ordenada pela rainha Catarina da Áustria e respaldada pela bula papal, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, foi uma carnificina. A violência empregada foi extrema, com relatos de execuções cruéis, como o uso de índios como projéteis de canhão. Os sobreviventes foram escravizados, marcando o fim de uma cultura e o início da dominação portuguesa. Embora existam versões alternativas sobre os motivos da guerra, a responsabilidade pela destruição da nação Caeté recai sobre a coroa portuguesa e seus representantes.
A partir do extermínio indígena, iniciou-se a colonização efetiva da região. A fertilidade do solo atraiu imigrantes portugueses, buscando riqueza e terras férteis. Documentos históricos, como a carta de Filipe II de 1606, mencionam a chegada dos irmãos João e Sebastião Ferreira da Rocha, marcando o início do povoamento efetivo. A distribuição de sesmarias em 1612 consolidou a posse portuguesa da terra, beneficiando famílias como a de Filipa de Moura e outros lavradores, que se tornaram os pilares da economia açucareira local.
A ocupação holandesa em 1630 trouxe novos conflitos. A disputa pelo controle da produção açucareira resultou na violência contra os colonos portugueses, como exemplifica o caso de Sebastião Ferreira da Rocha, que resistiu à ocupação e foi brutalmente castigado, tornando-se um mártir local.
A fundação de São Miguel dos Campos, portanto, não se deu em um vácuo, mas como resultado direto da violência colonial e da destruição de uma cultura indígena. A construção da cidade sobre os escombros da nação Caeté representa um capítulo sombrio da história brasileira, que deve ser lembrado e analisado criticamente para compreendermos as complexidades do nosso passado.
* Texto Escrito Por Ernande Bezerra de Moura
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