O RIO SÃO MIGUEL: UM LAMENTO ESQUECIDO
O RIO SÃO MIGUEL: UM LAMENTO ESQUECIDO.
Este texto retrata com poesia e amargura a triste realidade do Rio São Miguel, em São Miguel dos Campos, Alagoas. O rio, protagonista de um passado glorioso, é hoje um leito agonizante, vítima do descaso e da falta de planejamento. Sua história, intrinsecamente ligada à formação da cidade, é um testemunho vivo de um tempo em que suas águas navegáveis eram a artéria vital da região, impulsionando o comércio do açúcar e sustentando a população local. A riqueza da pesca, a abundância de recursos naturais como barro e areia, tudo isso se perdeu na memória coletiva, obscurecido pela degradação ambiental.
O poema "O Descontentamento do Rio São Miguel" personifica o rio, dando voz à sua dor e descrevendo sua decadência. A imagem do rio enfraquecido, sem rumo, sem leito definido, é profundamente impactante. A culpa, sugere o poema, não é exclusivamente do rio, mas sim de um descuido coletivo, de um tempo que o esqueceu e o deixou à mercê da destruição. O apelo final, a súplica para que se preserve seu nome e seu passado, é um grito de alerta que ecoa a necessidade urgente de ações para a recuperação do rio.
A data comemorativa do descobrimento do Rio São Miguel, 29 de setembro de 1501, torna-se irônica frente à sua atual situação. A celebração de um passado glorioso contrasta com a realidade de um presente marcado pela degradação. A solução, como aponta o texto, reside na ação conjunta dos gestores públicos, na elaboração de um projeto de revitalização e na busca por recursos para sua execução. A preservação do Rio São Miguel não é apenas uma questão ambiental, mas também um ato de justiça histórica, uma forma de honrar a memória e o legado deste rio que, em sua agonia, ainda sussurra a história de São Miguel dos Campos.
"O DESCONTENTAMENTO DO RIO SÃO MIGUEL"
Quando fui descoberto
Pensei que ia ter paz e sossego
Que ia viver por resto da vida
Recebendo de vocês aconchegos.
Fui eu que dei nome a cidade
Fiz da minha vida a sua história
Matei a sede e a fome de muita gente
Presenciei derrotas e vitórias.
Hoje não sei mais onde chegar
Meu corpo cada vez mais enfraquecido
Olho para os lados não vejo saída
Até meu curso e meu leito perderam os sentidos.
Em outrora fui rota de viagem
Onde tanto peso suportei.
Também levei gente para o outro mundo
Eu sei meu Deus! Que peguei.
Acho que a culpa não foi minha
Acredito que seja descuido do tempo
Só sei que a cada ano que passa
Noto meu corpo morrendo.
Já não tenho mais vontade de viver
Sinto que meus dias estão chegando
Apenas te peço meu São Miguel!
Que preserve o meu nome e o meu passado.
* Texto Escrito Por Ernande Bezerra de Moura
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