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Mesa Posta

 

 

           Mesa posta. Pão, queijo, melão, laranja... Vida. A desconfiança é o prato principal. Todos saboreiam o seu gosto amargo... O fel é passado em gotas, a calma antecede o vácuo... Uns observam o passar da carne desfigurada... Outros se identificam... O vinho cor de sangue passa de boca em boca... Os lábios se abrem num convite mudo ao desejo. A Indiferença anda em círculos... A comida desce com dificuldade. Todos se embriagam com o cheiro do veneno...

            A Hipocrisia é servida como segundo prato. Todos se sentem tentados a prová-la. O calor aumenta. Alguns se perguntam onde está a beleza... Outros se dizem orgulhosos... O riso é pontilhado de fagulhas, o olhar de segredo... O coração bate na pulsação dos segundos... Os talheres passam de mão em mão... O gesto desmistifica tudo... Pernas cruzadas... O som é intocável... As letras voam com destino apropriado...

           Pela porta entra o terceiro prato; o Orgulho. Todos o observam e provam um pedaço... No andar de cima casais se beijam e exalam o cheiro do sexo... Lá tudo é permitido... Lá não há mistérios... Todos foram preparados para quilo, uns com mais desenvoltura; outros com mais embaraço... O piano no canto é o único sinal de suavidade... A maquiagem pesada reflete a realidade... O terno e a gravata também... Ninguém se condena. Todos condenam o outro...

             A Tristeza é bebida... Esqueceram de preparar a Sinceridade para a mesa... Esqueceram da Ingenuidade. A raiva provoca uma desavença que logo é esquecida... Os sonhos foram apagados... A crença em Deus só no crucifixo preso a uma parede distante... De repente Ele entra e passa despercebido; quem o vê finge que não existe; Ele entra, sobe as escadas... Entra no quarto. Há alguém a sua espera. E o que todos escutam é o estampido do fim da Vida. A noite acaba e todos vão dormir a espera do novo Dia...

 

Andréa Farias

 

* Texto publicado na revista "Albatroz Poetas do Poente"

             A Tristeza é bebida... Esqueceram de preparar a Sinceridade para a mesa... Esqueceram da Ingenuidade. A raiva provoca uma desavença que logo é esquecida... Os sonhos foram apagados... A crença em Deus só no crucifixo preso a uma parede distante... De repente Ele entra e passa despercebido; quem o vê finge que não existe; Ele entra, sobe as escadas... Entra no quarto. Há alguém a sua espera. E o que todos escutam é o estampido do fim da Vida. A noite acaba e todos vão dormir a espera do novo Dia...A Hipocrisia é servida como segundo prato. Todos se sentem tentados a prová-la. O calor aumenta. Alguns se perguntam onde está a beleza... Outros se dizem orgulhosos... O riso é pontilhado de fagulhas, o olhar de segredo... O coração bate na pulsação dos segundos... Os talheres passam de mão em mão... O gesto desmistifica tudo... Pernas cruzadas... O som é intocável... As letras voam com destino apropriado...
Pela porta entra o terceiro prato; o Orgulho. Todos o observam e provam um pedaço... No andar de cima casais se beijam e exalam o cheiro do sexo... Lá tudo é permitido... Lá não há mistérios... Todos foram preparados para quilo, uns com mais desenvoltura; outros com mais embaraço... O piano no canto é o único sinal de suavidade... A maquiagem pesada reflete a realidade... O terno e a gravata também... Ninguém se condena. Todos condenam o outro...
A Tristeza é bebida... Esqueceram de preparar a Sinceridade para a mesa... Esqueceram da Ingenuidade. A raiva provoca uma desavença que logo é esquecida... Os sonhos foram apagados... A crença em Deus só no crucifixo preso a uma parede distante... De repente Ele entra e passa despercebido; quem o vê finge que não existe; Ele entra, sobe as escadas... Entra no quarto. Há alguém a sua espera. E o que todos escutam é o estampido do fim da Vida. A noite acaba e todos vão dormir a espera do novo Dia...
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Andréa Farias ESCRITO POR Andréa Farias Escritora

Comentários

deconhecido

Falar sobre "Mesa Posta" é muito gratificante para mim. Talvez, porque me identifique mais com a crônica. E a mesma se apresenta para mim, como tal. Além disso,gosto de leitura densa. Amei, Andréa!!! QUE A ARTE NOS MANTENHA VIVOS...

deconhecido

Que lindo e esclarecedor esse texto; sinceramente achei muito bem escrito, nele há a sinceridade, há verdade e acima de tudo há uma mesa posta com tudo que a vida nos oferece...


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