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O bom leitor é a semente de um bom escritor

Ele, cidadão probo, respeitado, como parcela da reserva moral do Estado das Alagoas, passara a infância e a adolescência praticando estripulias no Bairro de Jaraguá. Não obstante isso, o Sr. Rocha cedo se entrega ao formidável hábito da leitura. Sigmund Freud, Dostoievski, Marx, Engels, Platão, Marcel Proust, Aldous Huxley, Edgar Allan Poe, Hemingway, Machado de Assis, José de Alencar, Castro Alves e muitos outros clássicos da literatura brasileira e mundial, serviram-lhe de supedâneo à formação de invejável arcabouço teórico. Além da constância nas leituras, vivia nas tertúlias com os amigos intelectuais de sua juventude, ocasião em que discorria e debatia sobre tudo aquilo que havia lido.

O Sr. Rocha é, portanto, pródigo de conhecimento. Ademais, é homem de brilhante oratória e, por tal, angariara encômios nos palanques, nas tribunas em que esteve; nos palcos sociais, até os dias de então, não costuma se envolver numa discussão sem o enfrentamento de suas raízes epistemológicas, o que dificulta a refutação de suas teses.  No mundo jurídico, ele se fulcra, invariavelmente, nos princípios do Direito para produzir a melhor hermenêutica a fim de dirimir as inumeráveis questões que lhe chegam. Ele equivale a um jurisconsulto da Roma antiga.

É sabido que o bom leitor é a semente de um bom escritor.  Sr. Rocha não é senão um escritor de escol e poeta que transpira sensibilidade no versejar. Seus escritos são construídos à base de um português escorreito onde se capta o desiderato de preservação do puriismo lingüístico, em repúdio ao exacerbado coloquialismo manifestado, sobretudo, na música, a revelar um descaso com a poesia, um escárnio ao idioma pátrio.

O Sr. Rocha brinca com as palavras e exerce sua verve com incomum naturalidade, sem preocupação com as opiniões que o julgue pedante. Por sua vez, vive a lamentar o descaso das autoridades governamentais com a educação, eis que propugna ser esta o alicerce da formação de um autêntico cidadão. Isso é verdade. Sem educação fatalmente não se desenvolve o pensamento crítico; fica, pois, prejudicado o exercício da democracia e os incautos eleitores permanecem como “massa de manobra”, dispostos a trocar o voto por dentadura...

Certo dia encontrara um leitor assíduo das suas crônicas, as publicadas em jornais de grande circulação no Estado de Alagoas; esse leitor, após revesti-lo de elogios por seus textos bem elaborados, em tom de gracejo, pergunta-lhe se não seria possível escrever textos com um português em que não fosse necessário realizar suas leituras com um dicionário ao lado. Num só ímpeto, o Sr. Rocha respondera-lhe: “duas coisas me incomodam nos meus ensaios literários. A primeira é que não consigo, ainda, escrever para a plebe ignara, não me faço compreender...” – risos. O amigo quis saber da segunda. Continuou o Sr. Rocha: “a segunda é que considero lamentável que eu tenha um grupo de amigos subalfabetizados”; e nada mais foi dito, a não ser troca de gestos fraternais de risos e abraços.

Brincadeiras de amigos a parte, O Sr. Rocha é alguém que, na vida pessoal, costuma guardar a coerência entre os pensamentos, os sentimentos e as palavras proferidas por si. Cioso de possuir tal atributo desistira, definitivamente, da política. “Ora, ora, o povo acostumou-se a ser iludido pelos políticos e iludi-los”. Defende, intransigentemente, que pau é pau e pedra é pedra. Mas é mesmo rocha, na essencialidade da sua dureza em relação à mediocridade. Só prometia aquilo que entendia factível. Política passara a ser, portanto, meramente um objeto plausível das discussões dentro do seu circuito social e a ciência com que embasaria suas escolhas nas urnas.

“Votar, sim! Pedir voto, jamais!”

Simone Moura e Mendes

www.simonemouramendes.com

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Simone Moura e Mendes ESCRITO POR Simone Moura e Mendes Escritora
Maceió - AL

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