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Rumo à fonte da juventude

É cediço que, desde tempos imemoriais, a humanidade lança-se em busca da fonte da juventude. A indústria de cosmético, mercê da vaidade feminina, investe forte em pesquisa de novos produtos, em tratamentos que retardem o efeito deletério, inexorável do tempo. O Apelo é voraz e as mulheres se rendem, gastam vultosas quantias em cremes, massagens, em inumeráveis tratamentos que, muitas vezes, prometem até o quê estão longe de cumprir.

Incorruptível em face de tantas sugestões e demandas, uma médica, especializada em dermatologia, aderiu à prescrição de poucos tratamentos preventivos, somente aqueles em que pode creditar bons resultados, optando, pois, pelos curativos, a sanarem marcas, dores e conseqüências nefastas. Mas ela é mulher. Portanto, suscetível aos enredos prometedores em benefício próprio.

Pois bem, estava em seu consultório, quando uma paciente lhe indagou se ouvira falar na lama rejuvenescedora de Brejo das Freiras. Ouvidos atentos, memorizou mais que instantaneamente todos os detalhes de como faria para lá chegar. A propósito, conjecturou: “uma aparência de uns cinco anos a menos não me causaria mal algum... Huummm!”. Perspicaz que é, convenceu às mulheres da família a instarem aos homens a rumarem em excursão ao dito lugar, onde teria um hotel acolhedor. Resultou que toda a família, inclusive, seu pai e sua mãe, atraíra-se pela aventura (?).

O ônibus não era bem o que se podia denominar de “leito”. Eufóricos, porém, foram todos cantando “se esse ônibus não virar, olé, olé,olá, a gente chega lá”. Ainda à longa distância do destino, em local ermo e, normalmente, sitiado por bandidos, o ônibus quebrou. Um dos irmãos, conhecedor da fama da região, sustentara que não ficaria ali até o socorro chegar. Conseguiu parar um ônibus, em péssimo estado de conservação, que estava a levar as beatas para a igreja de uma cidade próxima. Por excesso de lotação e falta de documento, embrenhou-se nas estradas vicinais, estreitas e de barro.

A certa altura do caminho, o ônibus, na tentativa de passar por um caminhão em sentido oposto, nele se enganchou. Os homens desceram e subiram na capota do ônibus na busca de empurrá-lo lateralmente e propiciar a progressão de ambos os veículos. O pouco avanço ia fazendo com que o caminhão quebrasse os vidros das janelas do ônibus, ao tempo em que se desenvolvia o choro em coro das crianças, a reza das beatas, os gritos de “aí Meu Deus”, das mulheres... Conseguiram chegar, em alta madrugada, num simplório hotel, onde todas as acomodações já estavam ocupadas. Alguns dormiram nas poltronas da recepção, uma das mulheres foi banhar as filhas, lourinhas dos olhos azuis.

No raiar do dia, o ônibus que os levaria ao pretendido lugar chegara com o problema equacionado. Ufa!!!! Pé na estrada até o fim se noutro ponto não houvesse quebrado novamente. Dessa vez, a carona foi numa “van”, que, ao ser detida para averiguação num posto policial, apresentou ao guarda o documento de um Passat e, subrepticiamente, uma nota de cinco reais - para espanto geral aquilo era de praxe. Os tantos contratempos faziam a comandante da caravana sentir-se fuzilada com os olhos por todo o grupo. A fim de minorar seu abatimento moral, ela pensava: “se o hotel for mesmo bom, vai compensar esses episódios fatídicos e todos logo deles esquecerão”. Chegaram, enfim, já com o sol em ponto máximo. Estavam no ápice da exaustão e não se ativeram aos detalhes externos do perseguido resort (?). Não puderam, contudo, deixar de sentir o cheiro entorpecedor do mofo, de notar o formigueiro ativo plantado no meio do quarto.

O reencontro no saguão não foi nada amistoso. Ela, a condutora do grupo, quis levantar o moral de todos pondo expectativa nos possíveis atrativos do hotel, nos da cidade e, mormente, no efeito auspicioso da lama. A piscina logo saíra do páreo, eis que sua aparência era de completo abandono; a trilha que levaria às pegadas de dinossauro, de que teve conhecimento, com que humor seria empreendida? “Moço, moço, onde a gente pode encontrar a lama que faz rejuvenescer?” Pergunta ela a um funcionário passante. “Hum, lama?! Acolá tem um pouco, quer que eu lhe traga num balde?”. Agora, sim, tinha certeza: seria trucidada.

Salvar-lhe-ia a cunhada que lhe mencionou ter uma promessa a Padre Cícero a ser paga no Juazeiro/CE, não muito distante dali. Afinal, passar a Semana Santa escutando censuras naquele local “onde o vento fazia a curva” não era dos melhores programas. Com o resquício de crédito de que dispunha, conseguira persuadir ao grupo a passear na pitoresca Juazeiro/CE – uma decisão utilitária. Se o ônibus não houvesse, mais outra vez, quebrado até seria capaz de convencer aos familiares a um passeio futuro... Quem sabe até mesmo uma excursão ao oco do mundo?!

 

Simone Moura e Mendes

www.simonemouramendes.com

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Simone Moura e Mendes ESCRITO POR Simone Moura e Mendes Escritora
Maceió - AL

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