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Quarenta anos!

Enfim... Quarenta anos!

onde está a maturidade anunciada?

há, sim, um corpo cansado, sovado pela labuta

arqueando-se, quedando-se, a mercê da força gravitacional

invólucro de um espírito irrequieto, vulcânico...

ávido por aventuras que a idade mais alto tributa

 

São quarenta anos!

onde está a placidez da paz vislumbrada?

se as montanhas não foram todas escaladas

se não desci corredeiras nem pilotei asas-delta

nem descobri os segredos guardados nas florestas

se não me tornei uma grande poeta?

 

São quarenta anos!

prazeres subornados por outros hábitos

batuques, noitadas, canções...

por recomendações maternais e orações
a gastrite aguda da cerveja pela crônica da coca-cola

o amendoim, o siri, as estridentes gargalhadas
pelo calor calórico do chocolate
-mecanicamente deglutido entre um e outro “telecine” –

a poesia, a fantasia, as aventuras, as heresias
pelas venturas calculadas em gaiolas mentais milimetradas

 

Quarenta anos!

justificando-se no temor de os filhos refazerem velhas trilhas

sem que saiam ilesos...

são deles, contudo, outras motivações

não há o romantismo de um casual encontro

seus programas são agendados pelo celular, “orkut”, “msn”...

não há um flerte contido, platônico
mas relações encartadas no descompromissado “ficar”

 

São quarenta anos!

troquei as travessias da lagoa em barquinhos artesanais

por cruzeiros em transatlânticos

os bailes interioranos, os carnavais pernambucanos

pela introdução dos filhos no “mundo dos adultos”

alinhado em padrões vetustos dos meus ancestrais

 

São quarenta anos!

comportam-se os domingos repetidos e repelidos

minutos após minutos compondo horas ansiosas
prenunciando outro primeiro “dia útil”

para o anúncio de um ser sensato e discreto
hermético, conformado em regras

- arremedo de responsabilidade, ditado pela sociedade –

 

Após esse marco, a vida prossegue!
ainda haverá mais tempo de chorar os tempo idos

inobstante sorrir pelos louros granjeados

de contemplar os alvéolos da laranja

de sentir o vento dobrar as curvas da estrada
de contar histórias aos meus netos

e, ainda, de dizer o que penso

sem recear perder meus afetos

(Simone Moura e Mendes)

www.simonemouramendes.com

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Simone Moura e Mendes ESCRITO POR Simone Moura e Mendes Escritora
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