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O encontro das "Luluzinhas"

Encontro marcado pelo “faceboock”, no grupo secreto do colégio – turma de 1984. Não estava concebido para sê-lo, mas se reverteu numa reunião de “Luluzinhas”. Poderia ter sido de todas elas, então; contudo, naquele, apenas, oito se fizeram presentes - em matéria, é óbvio! Oito mulheres cujas existências estão, inexoravelmente, entrelaçadas.
Antes: pela preocupação com os estudos, provas, notas, vestibular... Um futuro idealizado pelos pais; pelo convívio pacífico na sala de aula, nos corredores do colégio, no território dos sonhos... Dentro das quadras de esporte ou nas arquibancadas, na torcida pelas vitórias nos jogos estudantis - ou na vida; pelas artimanhas juvenis no pretenderem driblar as aulas, a fim de viverem histórias dignas de suscitarem saudades num tão longínquo, quanto incerto futuro. Hoje: pelas reminiscências que tais vivências produziram – e são tantas!; pelas amizades fraternas, pelas feridas cicatrizadas de todas quantas vivas; pelo sucesso logrado, mormente, o de estarem ali fazendo piadas até mesmo dos mais singulares percalços.
“No lado de lá se sentam as casadas, no de cá, as desquitadas” – propusera uma delas. “Desquitadas, amiga?! Mas você é antiga, hein? Já vi, que é do tempo da turma do Balão Mágico”. Os risos espocaram e foram audíveis além do “Divina Gula”. “Ô menino, garçom, ô garçom, tire-nos aqui um retrato, contanto que eu fique bonita, viu?”. Se seus pensamentos fluíssem com legenda, dar-se-ia para ler: “a foto eu posso tirar, mas o milagre fica a cargo do santo, minha senhora!”.
Todavia, ninguém mencionou o medo da osteoporose, do Mal de Parkinson, do Alzheimer... Incontinenti, todas adolesceram na alegria de estarem juntas, novamente. Uma solteira, três casadas, outras... Das divorciadas, uma falou da expectativa de encontrar o quarto consorte. “Arranja só um namorado, menina!” – sugerira uma delas. “Eu gosto mesmo é de casar. E, se não der certo, da alegria de me separar, ora então! Sabe de uma coisa: quem tiver em cima do muro, mal no casamento, vivendo de aparências... Pode conversar comigo, pois eu faço pular na hora. Disso eu entendo, amigas!”.
“A propósito, alguém sabe se alguma das nossas, ficou rica?”. “Sim, algumas casaram e herdaram a fortuna e sobrenome do marido. Mas, daqui mesmo, acho que nenhuma.” Rsrsrsr. Ali, rica pelo metal, nenhuma, na verdade. Entretanto, na hora de pedir as bebidas: “um shop”, “uma cerveja”, “uma coca zero”, “uma caipifruta, para mim”. “Traga-me, por obséquio, um cálice de vinho do porto”. Uma chique se revelou!!!
 
“Mas fulana não veio?”. “Hum, essa daí é dominada pelo marido, só faz o que ele quer. Liguei e ela mandou o filho dizer que estava dormindo”. De qualquer modo, uma e outra olhavam para o relógio a todo instante, com o pensamento nas responsabilidades conjugais. “Vou-me embora, por imperativo da hora” – uma sentenciou. “Relaxa um pouco, fulana, que esta oportunidade é rara. Quer saber? Dê’-me aqui o número do celular dele que lhe vou requerer um ‘vale-nigth’...”.
 
Ainda, jovens senhoras, maduras nas vivências, souberam contornar as virulências para estarem ali, sorrindo, e imortalizarem-se na adolescência a ser eternizada nas lembranças comuns.  Serão sempre meninas, românticas e sonhadoras, brincando de esposa, mãe, avó, de médica, arquiteta, professora, advogada, funcionária pública, enfermeira, consultora empresarial... Brincando de viver felizes!
 
Simone Moura e Mendes
(Publicada em O Jornal, edição de 1º/05/2012)
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Simone Moura e Mendes ESCRITO POR Simone Moura e Mendes Escritora
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