A INEXORÁVEL COMPETÊNCIA DO SÉCULO XXI
Coisa mais fácil hoje em dia é ser um bom profissional no meu ofício. É verdade. Ser um assistente administrativo atualmente exige muito pouco conhecimento, é mais uma questão de ‘prática’! A praxe do copiar/colar que qualquer criança ou adolescente sabe fazer. Como os tempos mudaram... Houve uma época em que profissionais da minha área detinham grande prestígio na sociedade. Tínhamos habilidades importantes e indispensáveis para qualquer setor burocrático.
Mas isso foi antes, anteposto dos corretores ortográficos, do Google, das minutas salvas em pastas, prontas para utilização em qualquer emergência de correspondência oficial.
Agilidade com português instrumental? Que nada! O todo poderoso computador pode resolver tudo bem rápido. Cismo que não são as máquinas que substituem as pessoas, mas as pessoas que esqueceu sua própria capacidade ou incapacidade...
Com tanta gente competente por aí, acredito não ser tão necessário dedicar-me a uma carreira arcaica a minha contundente e eterna fome de saber. Sinto-me tresloucada, acho-me inoportuna, dispensável.
No entanto, nas décadas de 1980 e 1990, antes de ter essa máquina mágica e fabulosa, havia outra, a de escrever. Esta que dependia categoricamente de quem a operava, a qual na verdade, ensinou-me algo extremamente valioso: a pensar!
Quando sentada à frente da máquina era uma folha A4 ou ofício em branco, a máquina e eu. Ordenava as ideias antes de datilografar. Para quem, o que dizer, com que finalidade, qual a forma de tratamento adequado, a margem do texto... Só então, depois de ‘trabalhar’ mentalmente esses requisitos, colocar vocábulos no papel.
Ah, se errasse uma única palavra, retirar a folha e começar tudo novamente! Rasura nem pensar. Erro só era admitido em documentos manuscritos e ainda assim com ressalvas no final.
Não me dava conta de quanto trabalho isso acarretava. Cinquenta, cem folhas por dia. Assuntos diversos: certidões, editais, planilhas, ofícios, requerimentos, tabelas... Lembro-me da velha e boa caneta preta ao lado da máquina a qual eu introduzia em um pequeno orifício para desenhar as tabelas. Sem esquecer a calculadora que auxiliava na hora dos cálculos. O Excel não era popular naquele tempo.
Os textos precisavam estar ‘tinindo’. Nada de desacertos de concordância, ortográficos ou vocabulário coloquial. Quando manuseio um documento contemporâneo quase não posso acreditar ao perceber desvios simples de concordância ou de ortografia.
Estar-se acostumado à máquina resolver tudo ou procurar textos e imagens prontas no Google. Quando ela erra, o operador erra junto. Talvez não se lembre de que tem uma mente, uma máquina poderosa dentro da sua própria cabeça.
Tudo o que não era datilografado fazia-se escrito em listas ou formulários advindos de gráficas. Contados antes um a um para se ter ao final de tudo, a soma exata de gasto e consumo.
Porém, os setores públicos e privados estão cheios de profissionais que paralisam diante de uma simples folha em branco. Pessoas que estremecem somente de ouvir falar em redigir uma simples declaração sem o auxílio de seu indispensável instrumento de trabalho.
Agradeço a Deus por ter nascido em outra época!
Quando fui apresentada à tecnologia, os rumores sobre sua eficiência eram alarmantes. No início, sabíamos da sua enorme capacidade de facilitar o trabalho de redação no editor de texto. Fomos todos para escola aprender a operar, desde a ligar o seu CPU até compreender os diversos mecanismos operacionais.
Software e hardware surpreendentes! E a cada novidade, estávamos lá, perplexos. O mundo todo dentro de uma tela. Porém com o passar do tempo, aprendemos que nós, humanos, quem somos uma máquina extraordinária. Capazes inclusive, de inventar o computador.
Mas como existem as máquinas boas e as ruins, também existem as pessoas competentes e as incompetentes. Enfim, parodiando um famoso comercial, conhecimento na sua área não tem preço, para todos os outros casos existe o computador!
10/01/2010.
1 mil visualizações •
Comentários