Crônica: Meu inverno (Crônica de um amor congelado)
Crônica: Meu inverno
(Crônica de um amor congelado)
O inverno deste ano é o mais frio dos últimos dez anos. Bem mais intenso que o do ano passado e, talvez, ainda mais rigoroso do que o que virá. Lá fora, bem agasalhado nas ruas, vejo um vendedor de guarda-chuvas comemorar as vendas. A chuva que cai trouxe lucro àquele pai de família.
Essa estação é tão boa para dormir até tarde e ficar agarradinho. Mas, para mim, é triste e, chorando, vejo esse tempo passar. Na cama, minha presença se faz ausência há vários dias, pois fico deitado no sofá. A TV ligada me faz companhia até que o sono venha tranquilo.
Mesmo com edredom, calça e casaco, de madrugada desperto morrendo de tanto frio que não consigo me aquecer. Se eu acender uma lareira, ela congela junto com a minha tristeza.
Para matar a saudade da minha amada, pego nossas fotos e, em lágrimas, revelo - como em um filme - a cor da minha saudade. Adormeço novamente. Amanhece, e um forte calor toma conta de mim. Suado, tiro a roupa e visto algo mais leve.
No celular, uma mensagem: "Meu amor! Estou chegando hoje. " Desço as escadas correndo ao som da campainha. Abro a porta com tanta alegria, porém dou de cara com uma frieza ainda maior. Fecho a porta e fico ali, sentado no chão, chorando.
Após alguns minutos, devagar, volto a abrir a porta - e ela está lá. Olha para mim e diz: "Vim apenas dizer que terei que ir mais uma vez. " Mas eu pergunto: "E a mensagem? " Ela, calada, vira as costas e vai embora.
Aquele era o meu triste fim: apenas um calor chamado paixão e um frio que dizem que é amor.
Por Val Marks
Jornalista e escritor
Pilar, 05 de junho de 2017.
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